Jamais podemos servir a Deus com tradições humanas (parte 3 - final)
CONTINUAÇÃO
24. Muitos se maravilham de que Deus tão severamente com tão horríveis castigos ao povo que lhe honre com mandamentos de homens, e diga que em vão eles lhe honram. Pois se se dessem conta do que significa no problema religioso - que é o assunto da sabedoria celestial – depender exclusivamente da boca de Deus, compreenderiam por sua vez que não é de forma banal nem sem transcendência pelo que Deus abomina esses perversos serviços com os quais os homens pretendem servir-lhe como nojo. Se bem que eles possuem certa aparência de humildade e se obedecem a Deus com leis que lhe honram, entretanto não são humildes diante de Deus, pois lhe impõe a Ele mesmo as leis com que lhe honram. E esta é a razão pela qual Paulo tão diligentemente quer que nos guardemos de ser enganados por meio de filosofias sutilezas vãs, segundo as tradições dos homens “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl.2:8), nem com aquele culto que se chama voluntário, inventado pelos homens sem palavra alguma de Deus “Tais cousas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade”.(Cl.2:23)
Assim é certamente. E é necessário que nossa sabedoria e a de todos os homens nos seja loucura, para que lhe permitamos a Ele somente ser sábio. Este caminho, por suposto não o seguem àqueles que com suas tradições inventadas segundo o capricho dos homens, querem como impô-las a Deus pela força àquela perversa obediência que é comum entre os homens. Assim se vem fazendo durante muito tempo, e, segundo nossos conhecimentos, se faz atualmente donde quer que a criatura tenha mais autoridade e mando que o criador; donde a religião – se assim deve ser chamada – está tão manchada com maior número de superstições que as que existem no paganismo. Porque o que poderia produzir o engenho humano senão coisas carnais e totalmente desatinadas que representassem a seus autores?
25. Exemplos de Samuel e Manoá:
O que alegam os defensores das superstições, que Samuel sacrificou em Ramá. “Porém voltava a Ramá, porque sua casa estava ali, onde julgava a Israel onde edificou um altar ao Senhor” (ISm.7:17), e que apesar disso agradou a Deus, isso é fácil de solucionar. Não se tratou de outro altar que opusera ao único e próprio altar; sendo que não havia nenhum lugar assinalado para a arca da aliança, indicou ao povo o lugar que habitava como lugar apropriado para sacrificar. Certamente a intenção do santo profeta não foi introduzir inovação de nenhuma classe no que se referia ao culto divino. Bem sabia ele que Deus proibia mui severamente que se acrescentasse ou retirasse nada do mesmo. “Nada acrescentarás à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que eu vou mando.”(Dt.4:2)
Quanto ao exemplo de Manoá, pai de Sansão “Tomou, pois, Manoá um cabrito e uma oferta de manjares e os apresentou sobre uma rocha ao Senhor; e o Anjo do Senhor se houve maravilhosamente. Manoá e sua mulher estavam observando”(Jz.13:19), digo que foi um caso extraordinário e particular; porque se tratava de um homem comum que sacrificou a Deus, e não sem que este o aprovasse, pois ele não se atreveria a fazê-lo por si mesmo temerariamente sem inspiração divina.
Quanto Deus abomina o que os homens inventam por si mesmos para honrar-lhe, o demonstra Gideão com um exemplo não inferior ao de Manoá; porque a estola sacerdotal que desejou com uma louca devoção foi causa da ruína, não somente sua como também de sua família e de todo o povo “Desse peso fez Gideão uma estola sacerdotal e a pôs na sua cidade, em Ofra, e todo o Israel se prostituiu ali após ela; a estola veio a ser um laço a Gideão e à sua casa”(Jz.8:27). Enfim qualquer nova invenção com que os homens procuram honrar a Deus, não é senão uma contaminação da verdadeira santidade.
26. e) Cristo pede que se obedeça aos escribas e fariseus.
Porque, então, dizem eles, quis Cristo que se suportassem aquelas cargas intoleráveis, que os escribas e fariseus impunham “Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.” (Mt.23:3-4). Eu por minha vez lhes pergunto: Por que noutro lugar o mesmo Cristo mandou que se guardassem do fermento dos fariseus? “E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sanduceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não tendes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não compreendeis que não vos falei a respeito de pães? E sim acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus”. (Mt.16:6-12). Chama de fermento segundo interpretado pelo evangelista Mateus (citação anterior), tudo quanto misturam com a pureza da verdadeira doutrina da Palavra de Deus. Que coisa mais clara podemos desejar que nos mande que tomemos cuidado e nos guardemos de toda sua doutrina? Por aqui vemos, sem dúvidas, que o Senhor não quis no outro texto que a consciência dos seus se visse atormentada com as tradições dos fariseus.
As mesmas palavras, contanto que não se retorça seu sentido, querem dizer isso mesmo. Querendo o Senhor nesse lugar falar severamente contra os costumes de fariseus, ensina simplesmente a seus ouvintes que, mesmo não vissem na vida dos fariseus nada digno de imitação, entretanto desejassem fazer o que eles ensinavam de boca quando estavam sentados na cadeira de Moisés; ou seja, quando ensinavam o que a Lei ordenava. A intenção, pois, de Cristo não foi senão impedir que o povo, vendo os maus exemplos dos mesmos, chegasse a menosprezar a doutrina.
Mas como alguns não se movem por razões, sendo que sempre buscam a autoridade, citarei as palavras de santo Agostinho, que dizem o mesmo que tenho exposto: “tem o aprisco do Senhor”, disse, “pastores, uns fiéis e outros mercenários; os pastores fiéis são os verdadeiros pastores; entretanto, também os mercenários são necessários. Porque muitos na Igreja, buscando comodidade terrena pregam a Cristo; e as ovelhas seguem não o mercenário, e sim ao Pastor por causa do mercenário. Ouvi como o Pastor nos advertiu sobre os mercenários. Os escribas, disse e os fariseus se sentam na cátedra (cadeira) de Moisés; façam o que dizem, mas o que fazem não a queiras fazer. Que outra coisa digo senão essa: Ouvi por meio dos mercenários a voz do Pastor? Porque ao sentarem-se eles na cadeira, ensinam a Lei de Deus. Assim então por meio deles, ensina Deus. Pois se eles quiserem ensinar suas próprias doutrinas não o queiras ouvir, nem deverás o fazer”. 1 Basta aqui santo Agostinho.
27. São necessárias, boas e legítimas constituições.
Mas como a maior parte das pessoas ignorantes, quando ouvem que a consciência dos homens está ligada impiamente com as tradições humanas e que em vão se honra a Deus com elas, pensa o mesmo de todas as leis que mantém a ordem da Igreja, é necessário por remédio neste engano. Desde logo é bem fácil enganar-se nisto, porque não se vê a primeira vista a grande diferença que há entre umas leis e outras. Pois tratarei de tudo isso com tal clareza, que ninguém chamará de engano por causa da semelhança que há entre elas.
Primeiramente devemos considerar que se é necessário que em toda associação de homens haja certa ordem para manter a paz comum e a concórdia de todos; se nos assuntos há sempre um modo de tratá-los que não se pode omitir, e é em proveito do bem público, como por uma certa humanidade igualmente nas Igrejas, que se conservam muito bem quando há esta ordem e harmonia nelas; e, pelo contrário, se acham o perder em seguida sem sê-lo. “Por isto se quisermos que a Igreja vá de bem a melhor, devemos procurar com diligência, segundo disse Paulo: “que tudo se faça com decência e com ordem”“ Tudo, porém, seja feito com decência e ordem “(ICo.14:40).
Agora bem, como existe tanta diversidade de condições entre os homens, tanta variedade nos corações, e tanta oposição nos juízos e opiniões, não pode existir um governo o bastante firme, se não for ordenado com leis; nem se pode guardar nenhum rito, se não há uma forma prescrita. Por isto, tão distantes estamos de condenar aas leis que se dão a este propósito que ao contrário afirmamos que as igrejas, se lhes tira as leis, perdem seu vigor, e se deformam e arruínam por completo. Porque o que disse Paulo, que tudo seja feito decentemente e com ordem, não se pode conseguir se não se mantém de pé a ordem e a honestidade mediante as ordenanças, que são o meio de firmar. Pois nestas ordenanças, se há de evitar sempre que se cream necessárias para a salvação, e desta forma se obriguem as consciências a guardá-las; que se faça consistir nelas o culto divino, como se fosse a verdadeira religião.
28. As Ordenanças têm por fim a honestidade, a paz, e a concórdia.
Temos pois, um bom e fiel sinal para diferenciar as constituições ímpias – mediante as quais a verdadeira religião entenebrece e prejudica as consciências - e as legítimas ordenanças da Igreja, se levarmos em conta que o fim destas é que todas as coisas se façam decentemente na congregação dos fiéis, e com a dignidade que convém; e además, que se mantenha a ordem como se fossem vínculos de humanidade e moderação. Uma vez que se compreende que o fim da lei é a honestidade pública, não há já lugar para superstição em que caem os que medem o culto divino com invenções humanas.
Además quando se compreende que a lei leva em conta o uso comum, cai por terra aquela falsa opinião da obrigação e da necessidade, que tanto enterra aas consciências, pensando que as tradições eram necessárias para a salvação. Porque o alvo que aqui se pretende é que com um dever comum se conserve a caridade entre nós.
Pois convém definir ainda mais claramente que é a honestidade e também a ordem que Paulo nos recomenda. O fim da honestidade consiste, em que quando se celebram os ritos de uma certa veneração às coisas sagradas fomenta em nós a piedade; também em parte, em que brilhem a modéstia com intensidade que em todas as ações honestas, e especialmente aqui, devem resplandecer.
Quanto à ordem, o principal é que os que presidem conheçam a regra do bom governo, e o povo se acostume a obedecer a Deus e a observar a devida disciplina. E además de manter em boa ordem a Igreja, se cuide da paz e da tranqüilidade.
29. Honestidade e boa Ordem na Igreja.
Não chamaremos, pois, honestidade a aquilo em que não há mais que vã solenidade. Um exemplo disto temos naquele tétrico aparato que os papistas usam nas solenidades no culto divino, donde não se vê mais que elegância sem fruto, e esbanjamento sem proveito. Tenhamos por honestidade aquilo que de tal maneira é próprio para a reverência dos mistérios sagrados, que por sua vez é apto para o exercício da piedade, ou ao menos que sirva de enfeite conveniente para ação, e que não seja estéril, sendo que avise aos fiéis do quanto a modéstia, a religiosidade e reverência com que se devem tratar os mistérios divinos. Mas para que as cerimônias nos sirvam de piedade, é preciso que nos levem diretamente a Cristo.
Do mesmo modo, não faremos consistir a ordem naquelas vãs pompas, que em si mesmas não têm somente um esplendor chamativo, sendo naquela disposição de todos os elementos que suprime a confusão, a barbárie, a prepotência e toda discussão.
Exemplos primeiramente temos em Paulo, quando proíbe que se misture as comidas profanas com a Ceia do Senhor; que as mulheres salguem em público desnudas (com pouca roupa) “Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague” (ICo.11:21). Outras coisas semelhantes do cotidiano que são: que oremos de joelhos em contato direto com o solo; que não administrem os Sacramentos do Senhor de forma irreverentemente, e sim com dignidade, que ao se sepultar os mortos usemos de certa honestidade; e outras coisas do tipo.
Deste modo todas as ordenanças eclesiásticas que recebem como santas e saudáveis podem referir-se a um destes dois pontos principais: umas se referem aos ritos e cerimônias; outras, à disciplina e à paz.
30. Todas as Ordenanças devem fundamentar-se na autoridade de Deus e saírem das Escrituras.
Pois como aqui existe grande perigo os maus bispos, de uma parte busquem nisso, um pretexto como desculpa e aplicar suas ímpias tirânicas leis; e por outra, que haja alguns demasiado tímidos, que com a experiência dos males passados não dêem lugar a nenhuma lei por santa que seja, será bom declarar que eu aprovo todas aquelas constituições humanas que se fundam sobre a autoridade divina, que se deduzem da Escritura, e que, portanto, se lhes pode chamar totalmente divinas. Sirva de exemplo nos ajoelharmos ao fazermos orações solenes. Se pergunta se isto é tradição humana, a qual cada um pode repudiar e não fazer caso dela. Respondo que é humana e às vezes divina. É de Deus enquanto forma parte daquela honestidade, cuidado e observância que nos recomenda o Apóstolo; é dos homens enquanto demonstra em particular o que em público havia sido mostrado. Somente com este exemplo podemos ver o que devemos sentir de todo este gênero; a saber, que como o Senhor na Escritura reuniu fielmente e declarou plenamente todo o conjunto da verdadeira justiça e de seu culto divino; e tudo o necessário para salvação com respeito a estas coisas somente Ele é o Mestre a quem se deve escutar.
Mas com não quero prescrever em particular o que devemos seguir na disciplina e as cerimônias – porque sei muito bem que isto depende da condição dos tempos, e que uma só forma não convém na totalidade -, é preciso acolhermos as regras gerais que Ele deu, para que conforme a elas se regule e ordene tudo quanto exigirem à necessidade da Igreja no tocante a ordem e ao decoro.
Finalmente, como não deixou expressa coisa alguma, por não tratar-se por algo necessário para nossa salvação, e porque devem adaptar-se diversamente para edificação da Igreja conforme os costumes de cada nação, convém, segundo o exige a utilidade da Igreja, mudar e abolir a já passadas, e ordenar outras novas.
Admito que não devemos nos apressar a fazer outras temerariamente a cada passo e sem motivo sério. A caridade decidirá perfeitamente o que prejudica e o que edifica; se permitirmos que ela governe tudo irá bem.
31. Os Fiéis devem guardar com toda liberdade cristã tais ordenanças
O dever, pois, do povo cristão é guardar tudo aquilo que conforme a esta regra se ordene; e isto com liberdade de consciência e sem superstição de nenhuma classe, sendo com uma propensão piedosa e fácil para obedecer; e não menosprezá-lo, nem deixa-lo de lado, como por descuido. Tão distante está de que o deva violar ou quebrantar com altivez ou rebeldia.
Mas, que liberdade de consciência, se dirá, pode alguém ter quando se está obrigado a observá-las? Eu afirmo que a consciência não deixará de ser livre quando se compreenda que não se trata de ordenanças perpétuas as quais se está obrigado; sendo que se trata de auxílio extremo para a debilidade humana, das quais, se bem que nem todos temos necessidade, entretanto devemos nos servir; levando em conta que todos estamos obrigados mutualmente a conservar a caridade.
Isto se pode entender pelos exemplos que já expusemos. Como há algum mistério no véu da mulher, que se saísse com a cabeça descoberta cometeria um grave mal? É tão sagrado o silêncio da mulher que não se pode quebrar sem grande pecado? Contenta-se a religião em ajoelhar-se e enterrar os mortos, de tal maneira que não se pode omitir tal coisa sem grave ofensa? Certamente que não. Porque se a mulher se vê em tal necessidade de socorrer ao próximo que não haja tempo de cobrir a cabeça, não peca se não cobri-la. E assim mesmo há ocasiões que é conveniente que fale e os outros se cale. Nem há mal algum que alguém se não pode ajoelhar-se por algum motivo, ore de pé. Finalmente, é muito melhor enterrar o morto desnudo, que não enterrá-lo por falta de sudário (mortalha), há esperar que o corpo se decomponha.
Entretanto, há certas coisas com respeito a isto, que o costume dos países, essas leis, e a mesma regra de modéstia ditam o que se deve fazer ou não. Se ocorrer alguma falta por inadvertência ou dúvida, não há pecado algum, pois não se fez por desprezo, a obstinação sim é condenável. Da mesma forma, é igual que sejam uns ou outros os dias e as horas, que a edificação seja desta ou de outra forma, que em tal dia se cantem estes Salmos em vez de outros. Contudo, convém assinalar certos dias e certas horas, e que o espaço seja suficientemente amplo para que todos se abriguem; se estivermos preocupados que reine a paz. Pois seria um grande motivo de distúrbios a confusão destas coisas, se a cada um lhe fosse lícito mudar conforme seu capricho o que se refere à ordem comum, posto que nunca sucederá que uma coisa agrade a todos, se for deixado que cada um imponha sua vontade. E se alguém insiste, todavia e quer mostrar-se mais sábio no que se refere a esta matéria, veja com que razões podem apoiar-se suas pretensões diante de Deus. A nós nos satisfaremos no que disse o apóstolo Paulo “Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus” (ICo.11:16)
32. Não fazem com caridade, sem superstição, e segundo a oportunidade do tempo e das circunstâncias.
Devemos, pois tomar muito cuidado para que não se infiltre pouco a pouco nenhum erro que corrompa e obscureça este bom uso. O qual terá efeito se todas as ordenanças levam consigo algum proveito evidentemente, se nelas resplandece a doutrina do Senhor, que fecha a porta para as más opiniões. Este conhecimento faz com que cada um mantenha sua liberdade o exige o decoro de que temos falado, ou a caridade.
Además, que não sejamos supersticiosos ao guarda-las, nem as exijamos dos demais com excessivo rigor: que não estimemos que o culto divino é muito mais excelente do que a multidão de cerimônias, e que uma igreja não deprecie a outra pela diversidade da disciplina exterior. Finalmente, que como isto não nos impõe nenhuma lei permanente, nos referimos a todas as ordenanças para a edificação da Igreja; e que a requerimento da mesma, não somente permitamos que se mude algo, como também que não levemos a mal que se mudem todas as ordenanças que antes usávamos. Porque temos atualmente experiência de que as mudanças dos tempos permitem que certos ritos de cunho não mal nem indecorosos, se revoguem conforme as circunstâncias. Porque devido à cegueira e ignorância dos tempos passados foi tão grande que as igrejas se deixaram levar pelas cerimônias com um critério tão corrompido e um afã tão pertinaz, que se torna muito difícil limpá-las de superstições sem que se suprimam muita cerimônia, que outrora em tempos passados foram ditadas com motivo justo, e em si mesmas não se pode condenar de impiedade alguma.