Livros do MEC de 2019 virão com ideologia de gênero, denuncia professor
O professor Orley José da Silva, que trabalha na rede pública de Goiânia, acumula formações nas áreas de Letras e Teologia. Evangélico, faz doutorado em Ciências da Religião pela PUC de Goiás.
Tendo participado de várias audiências públicas em Brasília, converteu-se em um ativista contra a doutrinação das crianças nas escolas do país, fazendo denúncias sobre o material didático e o currículo escolar nas redes sociais e em seu site.
Em entrevista ao Gospel Prime, Orley conta que está envolvido com o movimento Escola Sem Partido desde o que surgiu o projeto de lei para estabelecer limites claros nas sala de aula. Apesar das muitas promessas do governo Temer em rever os conteúdos do material distribuído pelo governo no Programa Nacional do Livro Didático, o professor preocupa-se com às ideias ensinadas aos alunos de escola pública desde o seu primeiro ano.
Também vê fortes indícios da apresentação de material marcado pela “ideologia de gênero” e forte carga valorativa na Base Nacional Comum Curricular.
Para Orley, as mudanças políticas no país – como o perfil mais conservador do Congresso e a eleição de Jair Bolsonaro para presidente – darão início a um processo de reversão no ritmo de doutrinação estudantil consolidado nos governos do PSDB e do PT, mas que a educação no Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para que esse gigantesco projeto de engenharia social, seja revertido.
Confira abaixo a íntegra da conversa:
Qual sua motivação para fazer denúncias sobre indícios de doutrinação no currículo escolar brasileiro?
“Meu interesse pela observação dos livros didáticos, paradidáticos, literários e também do currículo escolar teve início no ano de 2000, como parte do exercício da prática docente. Aos poucos tive o olhar despertado para a possibilidade dessas ferramentas educacionais portarem de maneira intencional direcionamento ideológico de gênero, político e partidário.
A descoberta de ocorrências doutrinárias fez com que eu encaminhasse análises de maneira privada aos políticos, autoridades educacionais e eclesiásticas, pais e professores. Mais tarde, passei a escrever para jornais e sites da internet até criar um blog, em 2014, com a finalidade de melhor comunicar minhas descobertas e denúncias.
Trata-se de um modesto trabalho de pesquisa educacional, de natureza informal e voluntária, que nos últimos anos tem procurado contribuir com o processo de conscientização do conservadorismo cristão sobre a doutrinação escolar.

Por que o senhor considera importante o movimento “Escola Sem Partido”?
Esse movimento, idealizado pelo procurador Miguel Nagib, é importante porque desmascara ações doutrinárias de cunho político, partidário e de moralidade sexual que acontecem em boa parte das salas de aula brasileiras; denuncia a usurpação do direito dos pais pela afirmação dos seus valores na educação dos filhos; revela o grau de aparelhamento de muitas escolas por partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos; denuncia a falta de pluralidade na apresentação das ideias, fatos históricos e teorias aos alunos; questiona incoerências em livros e currículos escolares; traz para o debate educacional atores antes alijados pelo establishment educacional, como a família e os próprios alunos, além de contribuir para elevar a qualidade da educação.
Sou entusiasta de primeira hora do Projeto de Lei Escola Sem Partido (ESP), em tramitação na Câmara dos Deputados sob o nº 7180/14, desde que para o exclusivo combate à doutrinação pelas diferentes correntes políticas e partidárias. Apenas discordo da parte da redação que inclui à religião, pelo risco do não reconhecimento da naturalidade de elementos culturais cristãos na vida escolar, numa sociedade de hegemonia cristã.
Mesmo porque a única religião que se apresenta abertamente na escola como tal é a cristã. As outras religiosidades não se categorizam como religião, sendo tratadas como cultura, tradição, técnicas esportivas, de saúde, comportamentais e de autoconhecimento.
Em vista disto, há o temor de que esse dispositivo no Projeto de Lei sirva de ferramenta para a militância materialista ou socialista perseguir o que resta de elementos culturais cristãos espontâneos na escola.
Este mesmo receio impediu que alguns deputados estaduais e vereadores evangélicos e católicos, embora simpáticos às demais pautas do ESP, recuassem do seu patrocínio em seus estados e municípios.
Esse receio deixará só de existir caso prevaleça o substitutivo ao PL 7180/14 habilmente construído pelo deputado federal Flavinho (PSC/SP), relator do Escola Sem Partido na Comissão de Educação da Câmara. Com a mesma preocupação, Flavinho, um missionário católico, fez com muita habilidade os devidos ajustes no texto de maneira a fechar portas para a possibilidade futura de perseguição aos naturais reflexos cristãos na escola.

O senhor participou de audiências públicas em Brasília sobre Educação falando sobre livros didáticos e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Porém, o quadro não mudou muito após o fim do governo do PT. Por que isso acontece?
O governo FHC estruturou uma lenta e gradual marcha revolucionária socialista tendo como carros-chefes a Cultura e a Educação. Os governos Lula e Dilma aceleraram esse passo, estendendo os tentáculos para outras áreas como justiça, sindicatos e movimentos sociais. O governo Temer, até mesmo para conseguir a governabilidade, não cortou de todo a seiva que alimenta as células revolucionárias que se entremeiam à estrutura governamental.
Durante todo esse tempo, o conservadorismo cristão agiu resistindo à avalanche das políticas públicas, especialmente as educacionais, com momentos de avanços e recuos.
Essa imposição política e ideológica passa também pelo Currículo Escolar e pelos materiais didáticos, literários e paradidáticos destinados à educação de crianças e adolescentes.
A BNCC do Ensino Fundamental (para crianças de 0 a 14 anos) já homologada e em fase de implantação é uma preocupação à parte porque teve o seu objetivo constitucional alargado. Antes, prevista para ser um currículo mínimo, com os conteúdos básicos que toda criança brasileira devesse aprender, passou a comportar valores e também diretrizes pedagógicas e metodológicas.
É graças a essa abertura teórica que a BNCC pôde ser permeada com o ‘politicamente correto’, além de materialismo dialético, teoria crítica (inspirada na Escola de Frankfurt), relativismo filosófico, desconstrucionismo, evolucionismo filosófico, socioconstrutivismo e interculturalismo.
Embora na versão final da BNCC expressões relacionadas à categoria de gênero tenham sido retiradas, os conceitos básicos da Ideologia de Gênero permaneceram intactos no texto através do uso de estratégias semânticas, linguísticas e discursivas. A prova disto é que dezenas de livros didáticos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2019, de diferentes editoras, todos eles baseados na BNCC, chegarão às salas de aula com Ideologia de Gênero.
Além de currículo obrigatório para todas as escolas públicas e particulares do país, a BNCC provocará mudanças no currículo das licenciaturas em todas as faculdades e universidades e nos testes avaliativos do MEC.
Para quem espera através da política superar a hegemonia esquerdista no sistema educacional brasileiro, é bom pensar que daqui a 15 anos, o alinhamento teórico e ideológico provocado pela BNCC do Ensino Fundamental terá feito com que toda a população brasileira abaixo dos 30 anos, tenha sido moldada educacionalmente através das correntes teóricas citadas acima.
Com a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República e a chegada de um Congresso mais conservador, a esperança é que, finalmente, os ventos políticos mudem de lado e o Brasil conheça um novo tempo de ajustes sociais, educacionais, prosperidade e reconhecimento dos mais caros valores nacionais.
Como educador evangélico, como vê a inclusão de conteúdo de ideologia de gênero em material didático para crianças a partir de 4 anos? Quais as consequências disso?
As questões de gênero que se iniciaram no Ensino Médio, chegaram aos livros didáticos da primeira fase do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano, crianças de 6 a 10 anos) através do PNLD 2016.
Em 2019, essa temática chegará de maneira sutil à Pré-Escola (crianças de 4 a 5 anos e 11 meses), através do PNLD 2019, com validade para 4 anos, como um dos resultados da BNCC. Diferente das outras fases, o livro não será entregue à criança, mas servirá de subsídio pedagógico ao professor.
Desta forma, as questões de gênero alcançam a universalização na educação brasileira, da pré-escola à universidade. Logicamente, com uma aplicação de conteúdo medida, calculada e estratégica para cada fase da vida escolar.
No curto prazo, o esforço para reprogramar os corpos e as mentes das crianças com relação à sexualidade e aos papeis sociais desempenhados pelos indivíduos. Este esforço visa desconstruir os padrões sexuais e familiares naturais, classificados pela ideologia de estereótipos. Especialmente a sociedade ocidental, fortemente influenciada pelas culturas judaica e cristã.
No longo prazo, a superação do atual modelo civilizatório, para uma sociedade supostamente sem as atuais diferenças sexuais e de papeis sociais, que refletiriam nas relações de poder político e econômico.
Fonte: GospelPrime